Museu da Marioneta

As marionetas de sombra do sul da Índia são feitas a partir da pele de cabra ou de búfalo sendo por vezes também utilizada a pele de veado para a feitura de personagens divinas.
As peles tratadas com substâncias alcalinas são devidamente limpas e amaciadas em sucessivas fases até se obter uma superfície plana e translúcida sobre a qual é traçado o desenho da cada uma das personagens, seguidamente coloridas com o recurso a pigmentos naturais e, nos nossos dias, a pigmentos químicos.
O desenho de cada personagem tem por inspiração marionetas mais antigas, mantendo se assim a sua continuidade visual. Este desenho a traço largo e colorido é reforçado e completado pelo perfurar da pele segundo ricos e diversos padrões decorativos.
A natureza translúcida da pele de suporte, a transparência das cores e a diversidade e regularidade dos recortes favorecem a leitura das personagens retratadas, sobretudo quando colocadas e movimentadas contra a luz. A luz, juntamente com a cor e a pintura dos olhos de cada marioneta, a qual tem um carácter simbólico, dão vida às marionetas de sombra.
As marionetas de sombra do sul da Índia têm geralmente grandes dimensões, mais de um metro de altura, e o carácter de cada personagem é sinalizado pela sua cor e iconografia convocada. Se o azul é reservado para Rama e Krishna, personagens divinas, já o vermelho denota um carácter violento, animal, como é o caso de Ravana.
O desenhar dos olhos de cada marioneta define o momento a partir do qual as marionetas de sombra passam a ser tratadas com a deferência devida a cada uma das personagens retratadas, sobretudo as de natureza divina. Este tratamento deferente revela-se inclusivamente no modo como cada marioneta é guardada, evitando-se misturar personagens divinas com outras de natureza demoníaca.
A tradição das marionetas de sombra é não só muito antiga como se articula com os rituais animistas e religiosos das comunidades onde se desenvolveu e mantém. A sua prática é acompanhada por música, diálogos, canções e narrações que no seu conjunto permitem dar vida e emoção às histórias e lendas. As histórias mais frequentemente representadas inspiram-se em versões locais dos dois grandes épicos da literatura hindu, o Ramayana e o Mahabharata, épicos cuja influência é ainda dominante em toda a Ásia do sul e do sudeste.
Quer a lenda que a arte das marionetas de sombra terá tido origem numa tribo do Estado de Maharashtra, a Killyekatha. Teriam sido famílias desta tribo que, tendo emigrado para diferentes Estados do sul da Índia, espalharam esta tradição teatral.
Actualmente existem seis estados onde esta arte é praticada, tomando em cada um deles uma designação própria. No Maharashtra é conhecida por Pinguli, no vizinho Karnataka por Tugalu Gombe Atta, no Kerala, mais a sul, por Thoh Pava Koothu, no Tamil Nadu e no Andra Pradesh, ambos na costa leste do sul da Índia, por Tholu Bomalatta e, finalmente, mais a norte no Orissa, por Ravana Chhaya.