ROBERTOS ~ Histórias de um teatro itinerante
[…] trabalhar sozinho dentro de uma barraca de fantoches obriga a um esforço de cuja violência o público nunca se apercebe. Muitas alturas há em que seguro 2 bonifrates numa mão enquanto com a outra manipulo um boneco que volteia um pau. Depois, há que manter sempre húmida a fita de nastro que envolve a palheta metálica que pomos na boca. Para isso, somos obrigados a evitar o vinho, as sardinhas, as azeitonas[…]
Henrique Duarte, Bonecreiro Popular Português
Roberto é descendente da grande família de Polichinelos mas, ao contrário dos seus parentes europeus, não tem um tipo físico determinado, o que justifica a generalização do termo Robertos a todos os fantoches de luva: em Portugal chamam-se Robertos aos fantoches de luva e Roberto é também o protagonista da maioria das suas histórias.
Até meados do século XX, era comum encontrarem-se Robertos e as suas coloridas barracas nas ruas, praças, jardins e praias de todo o país. De carácter essencialmente popular e frequentemente ignorada pela maioria dos historiadores e investigadores das artes teatrais, o repertório do teatro de robertos era composto por textos de tradição oral, de sabor popular, com direito a muito improviso. Novos e velhos, crianças e adultos, acorriam aos primeiros sons agudos da palheta, prontos a deliciarem-se com os episódios cómicos que aqueles bonecos protagonizavam com ritmo e destreza.
No final do século, no entanto, esta forma teatral estava quase esquecida. Foi João Paulo Seara Cardoso, do Teatro de Marionetas do Porto, que primeiro percebeu a necessidade de preservar os Robertos, aprendendo a arte com o marionetista António Dias, ainda em actividade nos anos 80.
Hoje, em Portugal, há de novo uma família de bonecreiros que percorrem o país com os seus ‘actores de palmo e meio’, as suas guaritas e a sempre característica voz de palheta.
Para preservar esta forma teatral, o Museu da Marioneta propôs a inclusão do Teatro Dom Roberto no Inventário Cultural do Património Cultural Imaterial nacional. É importante preservar as marionetas e as estruturas físicas que lhe estão associadas, mas também todo o saber-fazer que os marionetistas podem transmitir: o ritmo de representação e de manipulação, com os seus truques específicos, a utilização da palheta, o modo de interacção com o público.
É também com este objectivo de divulgação e salvaguarda que o Museu da Marioneta apresenta uma exposição inteiramente dedicada aos Robertos, programando, em paralelo, ateliers para famílias e espectáculos com os bonecreiros actuais.
ROBERTOS | Histórias de um teatro itinerante
Exposição de marionetas, barracas de fantoches, fotografias e cenários.
Espectáculos de Robertos nos clautros | sextas-feiras, Julho e Setembro | 19h30.
Atelier Famílias | Construção de Robertos, marioneta tradicional portuguesa | 12 Agosto, 14h30 | +6 anos| 6,00 (1 adulto + 1 criança) | marcação prévia